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A percepção como criação do mundo: filosofia Tolteca e fenomenologia

  • Foto do escritor: Ana Luiza Faria
    Ana Luiza Faria
  • 21 de fev.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 20 de mar.

Por Ana Luiza Faria

A Percepção como criação do mundo: filosofia Tolteca e fenomenologia

O que você percebe agora realmente existe, ou é fruto da forma como seu corpo se organiza no mundo? Ao olhar ao redor, vemos cores, formas, sons e movimentos. Sentimos o ar, a pele sendo tocada, e a diversidade de sons ao nosso redor. Mas o que realmente sabemos sobre o que está à nossa frente? Nossa percepção não é um reflexo direto do mundo, mas uma construção dinâmica, resultado da interação do corpo com o ambiente.


Tanto a filosofia Tolteca quanto a fenomenologia da percepção nos convidam a refletir sobre algo profundo: o que chamamos de realidade não é algo fixo e imutável, mas um campo dinâmico, constantemente moldado pela experiência vivida. Para os Toltecas, a percepção não é passiva, mas um ato de criação, influenciado pelas histórias internas que contamos e pelos símbolos que carregamos. Na fenomenologia de Merleau-Ponty, a percepção é vista como um elo entre o corpo e o mundo, onde cada movimento e cada olhar trazem consigo um significado que emerge dessa relação.


Se tudo o que percebemos passa pelo corpo, pela memória e pela história pessoal, onde o mundo termina e onde começamos nós? Os Toltecas falam sobre a “domesticação” da percepção a ideia de que, desde a infância, aprendemos a ver o mundo através de uma lente moldada pela cultura e pela linguagem. Um conceito semelhante pode ser encontrado na fenomenologia: a percepção nunca é simples ou objetiva, mas está sempre filtrada pelo corpo, pelo tempo e pela experiência.


A percepção não é um dado fixo, mas um processo que acontece. O que sentimos, interpretamos e damos significado não vem apenas dos sentidos, mas de um ser inteiro, que se relaciona com o mundo. Para os Toltecas, a consciência desse processo é o primeiro passo para a liberdade. Para Merleau-Ponty, compreender a percepção como enraizada no corpo é um convite a desafiar a visão mecanicista da experiência humana.


Se percebemos o mundo a partir de nossas lentes pessoais, será que alguma vez realmente vemos algo pela primeira vez? Quando olhamos para o céu, para um rosto familiar ou até mesmo para nossas próprias mãos, não há ali uma memória impregnada, um significado carregado por camadas invisíveis de experiência? Os Toltecas falam de um “sonho” construído por nós, através da linguagem e dos acordos com o mundo. Esse sonho é profundamente real, pois molda o que percebemos e o que deixamos de perceber. Na fenomenologia, encontramos algo semelhante: nossa percepção é sempre filtrada por nossa história e pelo nosso corpo, e nunca tocamos o mundo sem ser tocados, ao mesmo tempo, por ele.


E o que acontece quando queremos mudar nossa percepção? Se o que vemos é um reflexo do que aprendemos, será que podemos desaprender? Os Toltecas nos ensinam que o primeiro passo para transformar nossa existência é perceber as estruturas invisíveis que nos habitam. Não basta querer mudar a forma como vemos o mundo; é preciso reorganizar o corpo e a mente para olhar de forma diferente. Merleau-Ponty nos diz que a percepção não é apenas um ato intelectual, mas algo que envolve todo o corpo, e que a verdadeira transformação requer uma mudança sentida, e não apenas pensada.


O corpo não é apenas um receptáculo para a mente, mas o próprio lugar onde a realidade se forma. Ele está imerso no mundo e, simultaneamente, transforma o mundo ao seu redor. Para os Toltecas, essa relação não é apenas uma condição da experiência, mas uma ferramenta para a transformação. Se o que percebemos é moldado pelas nossas histórias internas, mudar a percepção é, de certa forma, mudar a nós mesmos. Mas como fazer isso? Como expandir a nossa capacidade de ver, sentir e entender?


Na tradição Tolteca, o processo de transformação envolve desfazer crenças limitantes, dissolver as narrativas que nos restringem e abrir espaço para uma percepção mais silenciosa e aberta. Na fenomenologia, isso significa retornar à experiência direta, sem os filtros da linguagem e dos conceitos. Quando permitimos que a percepção aconteça sem pressa para entender ou categorizar, uma nova forma de ver pode surgir. Não se trata de apagar o passado, mas de perceber que ele não define o futuro da nossa percepção.


E se, por um momento, olhássemos o mundo como se fosse pela primeira vez? Sem rótulos automáticos, sem pressa para compreender, apenas experimentando como o corpo encontra o espaço, como a luz nos toca, como o som nos atravessa? Talvez, nesse instante, percebêssemos que a realidade não é uma estrutura rígida, mas algo que se cria. E que a percepção não é uma cópia do mundo, mas uma forma de nos relacionarmos com ele de maneira renovada.


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