“Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim”.
- Ana Luiza Faria
- 9 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 14 de out. de 2023
Por Ana Luiza Faria

A frase "Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim" encapsula uma profunda reflexão sobre a natureza individual da existência e a responsabilidade pessoal diante da vida. Ela reflete a ideia de que cada pessoa é responsável por si mesma, incluindo todos os aspectos internos que compõem sua identidade.
Álvaro de Campos, um dos heterônimos criados por Fernando Pessoa, expressa essa ideia de forma poética em sua obra "Tabacaria". Ao adotar a perspectiva de se aguentar consigo mesmo e com os diferentes aspectos de sua própria personalidade, a frase sugere uma aceitação radical da autenticidade e complexidade do eu.
Lembrei-me de uma das tirinhas da Mafalda que diz "justo a mim me coube ser eu", que reforça justamente essa ideia de que cada pessoa é única e confronta com a singularidade de sua própria existência. Não se trata apenas de aceitar a si mesmo, mas de reconhecer que a responsabilidade pela própria vida não pode ser transferida para outros. Cada indivíduo enfrenta os desafios de sua própria identidade e deve lidar com as nuances e contradições inerentes a ela.
A conexão com a psicoterapia é destacada ao afirmar que o processo terapêutico é destinado a quem não consegue mais suportar a carga de existir sozinho. O processo psicoterápico na abordagem psicodinâmica busca explorar o inconsciente do indivíduo, ajudando-o a compreender e lidar com seus conflitos internos. A frase sugere que, em algum momento da jornada pessoal, a necessidade de autoconhecimento e compreensão interna pode se tornar esmagadora, e é nesse ponto que a psicoterapia pode desempenhar um papel crucial.
A vida é apresentada como uma "tarefa intransferível", destacando que não é possível delegar a responsabilidade pela própria existência a terceiros. Cada um deve encarar seus desafios internos e externos, aceitar sua singularidade e, se necessário, buscar ajuda, como na psicoterapia, para lidar com os aspectos mais profundos e complexos de sua psique.
Em última análise, a frase reflete a ideia de que a jornada individual é única e que a verdadeira compreensão de si mesmo é uma conquista pessoal intransferível. Essa frase encapsula, assim, a essência da jornada psicoterapêutica, é um chamado para a autossuficiência emocional, um convite para enfrentar as complexidades internas com coragem e autenticidade. No coração desse desafio está a promessa de uma transformação profunda, onde o paciente emerge não apenas aguentando a si mesmo, mas integrando os múltiplos "comigos" de sua própria existência.